Páginas

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Uma avaliação mais ampla sobre a greve dos PMs - Bob Fernandes 


Entre muitos, Ulysses Guimarães foi grande líder civil na luta contra a última ditadura no Brasil. É dele a advertência: "Não se deve fazer piquenique na beira de um vulcão". Essa greve de PMs armados - que ameaça se alastrar para outros estados, como aqui informamos na segunda-feira-, é um piquenique à beira de um vulcão.
Alfredo Castro, comandante da PM na Bahia, em entrevista coletiva levantou gravíssima suspeita: falou em um estranho aumento no número de mendigos assassinados em Salvador nos últimos dias.
Crescem a movimentação, as conversas e a tensão em quartéis de PMs em meia dúzia de estados. Nessas horas, é sempre bom ver o que o passado nos ensina. O que a história recente nos ensinou,

A greve da PM já não é mais um problema apenas da Bahia. Ela é, hoje, uma questão do processo democrático. E por isso, antes de tudo, é preciso entender também o contexto político dessa greve na Bahia. A greve nasce com reivindicações que são justíssimas, por melhores salários. Mas a greve nasce com um punhado de PMS se portando como marginais. De armas nas mãos, tomando ônibus e fechando ruas, promovendo violência, assustando e depois abandonando a população nas ruas.
Há falhas evidentes de percepção da greve no devido tempo e na condução de negociações, mas há também a componente política local. Há quem esteja jogando lenha na fogueira pensando nas urnas do futuro. E não apenas o líder grevista, Marco Prisco. Há quem, a propósito de fazer a crítica democrática, esteja atiçando os grevistas. E neste caso, basta uma passada de olhos na história de alguns destes personagens.
Eles são herdeiros da ditadura. À sombra da ditadura, alguns deles construíram impérios políticos e empresariais. Estes, que estão na Bahia, que estão espelhados pelo Brasil, não se importam com democracia ou não. Serviram e servirão sempre a qualquer regime. Em nome, sempre, apenas dos próprios interesses.
A caminhada democrática do Brasil -a maior em um século- tem apenas 27 anos. Quem despreza, quem brinca com a democracia, não sabe, ou não lembra do que é uma ditadura. Só numa democracia se pode fazer greve. Só numa democracia cada um de nós, de vocês, pode dizer o que pensa.
No dia 5 de Outubro de 1988, Ulysses Guimarães, grande líder na luta pela democracia, promulgou a Constituição em vigor no Brasil. E essa Constituição não permite greve de PMs de arma em punho.
Não é tempo de bravatas e de oportunistas. A gravíssima questão da greve dos PMs cobra de todos serenidade, prudência, mas também firmeza no compromisso com a democracia.


Fonte: Jornal da Gazeta


Nenhum comentário:

Postar um comentário