Uma avaliação mais ampla sobre a greve dos PMs - Bob Fernandes
Entre muitos, Ulysses Guimarães foi grande líder civil na
luta contra a última ditadura no Brasil. É dele a advertência: "Não se
deve fazer piquenique na beira de um vulcão". Essa greve de PMs armados - que
ameaça se alastrar para outros estados, como aqui informamos na segunda-feira-,
é um piquenique à beira de um vulcão.
Alfredo Castro, comandante da PM na Bahia, em entrevista
coletiva levantou gravíssima suspeita: falou em um estranho aumento no número
de mendigos assassinados em Salvador nos últimos dias.
Crescem a movimentação, as conversas e a tensão em quartéis
de PMs em meia dúzia de estados. Nessas horas, é sempre bom ver o que o passado
nos ensina. O que a história recente nos ensinou,
A greve da PM já não é mais um problema apenas da Bahia. Ela
é, hoje, uma questão do processo democrático. E por isso, antes de tudo, é
preciso entender também o contexto político dessa greve na Bahia. A greve nasce
com reivindicações que são justíssimas, por melhores salários. Mas a greve
nasce com um punhado de PMS se portando como marginais. De armas nas mãos,
tomando ônibus e fechando ruas, promovendo violência, assustando e depois
abandonando a população nas ruas.
Há falhas evidentes de percepção da greve no devido tempo e
na condução de negociações, mas há também a componente política local. Há quem
esteja jogando lenha na fogueira pensando nas urnas do futuro. E não apenas o
líder grevista, Marco Prisco. Há quem, a propósito de fazer a crítica
democrática, esteja atiçando os grevistas. E neste caso, basta uma passada de
olhos na história de alguns destes personagens.
Eles são herdeiros da ditadura. À sombra da ditadura, alguns
deles construíram impérios políticos e empresariais. Estes, que estão na Bahia,
que estão espelhados pelo Brasil, não se importam com democracia ou não.
Serviram e servirão sempre a qualquer regime. Em nome, sempre, apenas dos
próprios interesses.
A caminhada democrática do Brasil -a maior em um século- tem
apenas 27 anos. Quem despreza, quem brinca com a democracia, não sabe, ou não
lembra do que é uma ditadura. Só numa democracia se pode fazer greve. Só numa
democracia cada um de nós, de vocês, pode dizer o que pensa.
No dia 5 de Outubro de 1988, Ulysses Guimarães, grande líder
na luta pela democracia, promulgou a Constituição em vigor no Brasil. E essa
Constituição não permite greve de PMs de arma em punho.
Não é tempo de bravatas e de oportunistas. A gravíssima
questão da greve dos PMs cobra de todos serenidade, prudência, mas também
firmeza no compromisso com a democracia.
Fonte: Jornal da Gazeta
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